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Entrevista com Jô Teixeira e "Foto Falada"

Atualizado: 27 de out. de 2019





Para o melhor entendimento do nosso trabalho no âmbito social escolhido, fomos conversar com a Jô (Josenilda Teixeira Costa Liberal) como gosta de ser chamada. Ela tem 55 anos, é assistente social, casada e possui 4 filhos. Funcionária pública concursada da Prefeitura de Itapevi e trabalhou como responsável pela “Casa Porto Seguro”, uma casa de acolhimento de crianças e jovens para adoção. A Jô é formada em Direito pela Universidade da Cidade de São Paulo (UNICID), pós-graduada em Direito Constitucional e Graduada em Assistência Social, ambas pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE).

Deixamos abaixo, algumas perguntas desse bate-papo:

O que te motivou, ou como decidiu entrar nessa área?

Resposta: Um dos motivos que fizeram eu entrar nessa área, que me causou curiosidade para conhecer, é que no direito, o qual sou formada também, os conflitos das pessoas, vinham para ser decididos por meio de uma sentença judicial, eu me colocava fazendo uma crítica. Por exemplo, uma separação que parava no tribunal que tinha muitos fatores intrafamiliares, ou seja, que podiam ser conversados e discutidos, se esse casal tivesse um apoio, uma mediação, os conflitos poderiam ser resolvidos e não precisaria de uma sentença de juiz algum. Pois essa sentença é pragmática, ela é concedida diante de uma análise da lei somente, não das relações humanas, como é que eles conseguiam achar que aquilo iria pôr fim ao conflito, então eu queria saber um pouquinho mais sobre isso, o que leva, as pessoas, o indivíduos, nesse conflito, a buscar somente a lei, se não existia um outro modo, uma outra forma, de auxiliar, essas pessoas, esses indivíduos, foi isso que me levou essa área. Nisso, durante minha pós-graduação, eu conheci dentro da sala de aula três assistentes sociais, que traziam sempre as questões de um outro foco, um pouco mais dialético, voltado pra humano, voltado para as relações humanas e foi me trazendo novamente aquela crítica. Foi isso que me levou realmente, e no semestre seguinte eu fazia a inscrição para fazer o serviço social.

Qual foi a coisa mais polêmica, que você já presenciou, acontecer com alguma criança, fora do comum, boa ou ruim?

Resposta: São muitas, mas temos que nomear os abusos. Uma criança que chega pra gente com 4 anos. Ele não sabia comer, não sabia engolir comida sólida. No primeiro momento a gente olha e fala, ele é autista, tem uma série de outras questões, mas na verdade a gente vai tomando conta e verificando a situação que a criança vivia até aquele momento, de negligência total, uma precariedade. Quando você vai conhecer o ambiente que ele estava, não era oferecido para ele comida sólida, nunca tinha visto uma escova de dentes, não conseguia falar e nem mexer a mandíbula, só babava. Porque isso não foi dito para ele, conversado com ele. Toda criança passa por fases, e quando ele era bebê ninguém falava com ele, brincava com ele, ele só era movido de um lugar para outro, colocado fralda. Ou seja, este bebe cresceu sem aprender a falar, se comunicar, comer. Estes fatos não eram biológicos, embora essa criança tivesse alguma questão psíquica vinda da mãe, mas tudo isso piorou um pouquinho mais a situação dela, em virtude dessas relações com esses pais doentes, o pai drogado crônico e a questão mental da mãe. Por exemplo, o pai não permitia que a criança fosse levada ao médico, nunca foi a escola, então para você mostrar uma escova de dente, ele gritava, ele não sabia brincar, sendo que o simples fato de jogar uma bola seria brincar, mas ele não fazia. Então ele mordia as outras crianças, pois embora com 4 anos ele ainda estava na fase oral. Foi um trabalho para tudo, de evolução, paciência que nós tivemos que fazer com este menino. No final, ele foi adotado.

Você já teve vontade de adotar alguém?

Não, porque antes mesmo de trabalhar com adoção eu já tinha uma crítica sobre o assunto, uma análise que eu havia feito. As pessoas que adotam, e eu digo isso para alguns pais, são especiais, essa é uma fala que eu tenho. Porque quando você vai ser mãe, de maneira natural, você não sabe o que virá, espera 9 meses, aguarda, não sabe o vai vir, das noites que você vai dividir, não dormir mais, seu dia a dia vai ser só para aquela criança, o seu patrimônio vai ser dela. Os cuidados que você terá que ter muitas vezes vão te afastar dos seus propósitos pessoais por conta daquela criança, por conta daquele filho. Tudo isso quando você gera um filho, você não tem essa consciência que todos esses fatores vão mudar sua vida. Porém, quando você adota sim, tem essa consciência, você sabe disso e é uma escolha, então essas são pessoas especiais, realmente elas têm aquele desejo, é um dom, porque mesmo sabendo de tudo que virá elas desejam aquilo e ela se propõe a fazer.


Abaixo, encontra-se nossa forma de expressar sobre "Políticas Publicas"




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